9 de agosto de 2010





O SORRISO DA SERPENTE


Lembrei agora do título do livro e resolvi aproveitar a licença poética pra falar sobre os tipos de dentição das serpentes.

A dentição é uma das características mais confiáveis para se diferenciar uma serpente peçonhenta de uma não peçonhenta ao contrário do formato da cabeça e a coloração, pois a primeira possui dentes especializados na injeção de veneno.

As serpentes possuem quatro tipos de dentição, onde a posição, o tamanho e a estrutura por onde passa o veneno são diferentes. Em termos de estrutura os dentes das serpentes podem apresentar um sulco na sua porção lateral (foto abaixo) ou na parte interna no dente.










Em termos de tipos de dentição temos:

Dentição Áglifa

As serpentes que possuem esse tipo de dentição são as da família Boidae, da qual pertecem as jibóias, e as serpentes não peçonhentas da família Colubridae como a "cobra do milho". Não existe nenhum dente especializado na injeção de veneno, no entanto a mordida das jibóias, por exemplo, é bastante dolorosa e a saliva infectada por bactérias, podendo levar a uma infecção daquelas.















Dentição Opistóglifa

Aqui existem um ou dois pares de dentes posicionados na parte posterior do maxilas (opis=oppositu). Esses são especializados, fixos e possuem o sulco lateral por onde escorre o veneno no momento da picada.






























Esse tipo de dentição é encontrado em serpentes da família Colubridae e exemplos são e as falsas corais e a cobra-verde (Phylodryas olfersii) (foto). Acidentes com essas serpentes são raros, e pela posição dos dentes a inoculação do veneno é dificil. Embora elas não sejam agressivas o o veneno da espécie P. orfensii é extremamente tóxico.



















Dentição Proteróglifa

As serpentes que possuem esse tipo de dentição são as da família Elapidae e como exemplo pode-se citar as Najas, Mambas (foto) e Corais.




















Possuem um par de dentes especializados e fixos na parte dianteira da boca (protero) e canaliculados por onde passa o veneno.

















Dentição Solenóglifa

Esse é o tipo de dentição mais sofisticado característica de serpentes da família Viperidae, como as jararacas e cascavéis.















A sofisticação vem do fato desse tipo de dentição ser caracterizada por dois dentes compridos e retráteis na parte anterior da boca. Além disso, são canaliculados, o canal é interno e diretamente ligado à glâdula de veneno . Essa estrutura torna os dentes dessas serpentes altamente eficientes na injeção do veneno, pois são como seringas hipodérmicas, e permitem a injeção rápida de grandes quantidades de veneno.















*fotomicrografia: Handbook of Venoms and Toxins (Mackessy, S.P.)

18 de julho de 2010



VENENOSA OU PEÇONHENTA?

Como disse no post anterior, vou voltar ao assunto sobre a questão venenosa ou peçonhenta. Adiantei que o termo correto para algumas serpentes é peçonhenta, uma vez que elas produzem e são capazes de injetar o veneno na presa.

Mas qual a diferença então entre venenosa e peçonhenta?

É justamente a capacidade de inocular o veneno. Uma planta, por exemplo, é considerada venenosa se produzir substâncias tais que, ao serem ingeridas, tiverem a capacidade de intoxicar e eventualmente matar, e no entanto ela não é peçonhenta.

Outro exemplo do reino animal são alguns sapos e rãs como a Dendrobates pumilio (foto) considerada um dos animais mais venenosos do planeta e no entanto não é peçonhenta, uma vez que só causa algum mal se for ingerida.














As serpentes peçonhentas estão classificadas em quatro famílias, Elapidae (corais e najas), Viperidae (cascavéis e jararacas), Atractasapididae (víbora serrilhada) e Colubridae* (cobra rateira) e todas possuem um aparelho produtor/injetor de veneno.

O veneno é produzido e armazenado em glândulas que se encontram na porção da musculatura supralabial do animal atrás ou abaixo dos olhos. As glândulas de veneno, que acredita-se serem uma evolução das glândulas salivares, podem ser de duas formas dependendo da família a qual a serpente pertence.

As famílias Viperidae, Elapidae e Atractaspididae possuem um par de glândulas em forma de bolsa ou lúmen onde o veneno é produzido e armazenado. Esse tipo de glândula está ligada a um músculo que é contraído no momento da picada. Com a contração muscular a glândula é pressionada e libera seu conteúdo rapidamente.

Já as serpentes peçonhentas da família Colubridae possuem um aparato chamado glândula de Durvenoy. Essa glândula se encontra fixa pelo tecido conjuntivo ligada à musculatura do maxilar. Aqui o veneno não fica armazenado no lúmen mas dentro das células do tecido e no momento da picada, o ligamento com o musculatura do maxilar contrai a glândula e faz com que o veneno seja liberado gradualmente pelas células, e então "escorre" pelos dentes da serpente.

Assim à primeira vista não parece haver muita diferença, mas esses dois tipos de "aparelhagem" de liberação do veneno fazem toda a diferença na hora da picada. No primeiro caso, como o veneno já está lá armazenado, em uma única picada a serpente pode liberar uma grande quantidade de veneno e depois ficar à espreita esperando a presa morrer.

Por outro lado, os colubrideos precisam ficar em contato com a presa, ou seja, picar e ficar com o animal na boca por algum tempo para que seja injetada uma grande quantidade de veneno.

Essa é uma vantagem que as serpentes das três primeiras famílias possuem e que as tornam muito eficientes no quesito "caçada". Mas existe ainda outro fator importante para essa grande eficiência que é o tipo de dentição, mas esse vai ser assunto pra outro post.

Espero que tenham gostado...see ya!

15 de julho de 2010




O BÁSICO

Quando se fala em serpentes, ou melhor, em cobras como popularmente as serpentes são conhecidas, a primeira reação das pessoas em geral é um misto de medo com asco.

Desde criança aprendemos que cobras são feias e perigosas. Mais tarde em aulas de ciência ou biologia aprendemos entre outras coisas que elas são répteis, animais de sangue frio, rastejam e que algumas são venenosas.

Recentemente algumas pesquisas sugerem que o medo de serpentes está “impresso” em nossos genes, já que elas co-evoluíram com primatas, sendo o primeiro predador a apresentar perigo grave para os mamíferos modernos, enquanto que outros predadores em potencial como leões evoluíram depois.

Com todo esse histórico não é de admirar que a maioria das pessoas tenha a mesma reação diante desses seres. Sim são animais potencialmente perigosos, mas partindo do principio que são desprovidos de membros, têm a visão ruim, não possuem ouvido externo, e, no entanto estão na terra há mais tempo do que nós Homo sapiens, no mínimo são animais que merecem ser estudados pelo seu sucesso evolutivo.

Eu sempre fui fascinada por esses animais e esse blog é tentar passar um pouquinho do que aprendi.

Taxonomicamente serpente é o nome genérico da subordem de répteis próximos dos lagartos com os quais compartilha a mesma ordem. Acredita-se que as serpentes originaram-se a partir dos lagartos, mais precisamente dos grandes lagartos da família Varanidae, cujo representante mais conhecido é o dragão-de komodo.


O “sangue frio” desses animais é devido ao fato de, como todo réptil, não serem capazes de regular a temperatura corporal, necessitando de uma fonte de calor externa e por essa razão, ocorrem em todo o planeta exceto em regiões polares.

Cobras na verdade são indivíduos da família Elapidae, uma das quatro famílias de serpentes peçonhentas existentes, sendo os representantes mais famosos as najas.


E por falar em nisso, outra confusão, embora popularmente costuma-se dividir as serpentes em venenosas e não venenosas, o termo correto é serpente peçonhenta e não peçonhenta...

...mas o que é isso?

Serpentes peçonhentas são aquelas que produzem veneno e possuem presas (voltarei nesse assunto em breve) para injetá-lo, como as najas do exemplo, as jararacas, cascavéis e corais, para citar algumas das mais conhecidas. Já as não peçonhentas, como nome diz, são as que não possuem presas como as pythons e jibóias.

Interessante heim?

Então, se você veio parar aqui e ficou, esses são alguns conceitos básicos. Se gostou, espero que volte, tentarei atualizar sempre que o doutorado deixar...see ya!